sexta-feira, 17 de outubro de 2008

"Mataram mineirinho. Com treze tiros, quando um só bastava para matá-lo. Ele, que tinha 28 anos, uma namorada e era devoto de algum santo que não me lembro mais. Ele que também era assassino."
Foi mais ou menos com estas palavras que a professora de literatura brasileira me fez refletir profundamente. Lembrei de tropa de Elite, quem não conhece esse filme? Quem não se lembra do cara que queimou os dois jovens dentro de duas pilhas de pneus? E quem não se lembra que no final do filme ele morreu com um tiro no rosto? Ele pedia que não atirassem no rosto porque ia estragar a imagem no caixão. Ele também tinha filho e esposa.

*Esse rascunho estava aqui há muito tempo, mas só hoje pude revê-lo. Estou postando agora...

domingo, 5 de outubro de 2008

Contra as leis de Murphy!

Houve um dia desses em que acordei com vontade de escrever. Era segunda-feira e geralmente, às segundas, não se tem ânimo para muita coisa. Mas eu queria escrever. Não qualquer coisa que me viesse à cabeça, mas qualquer coisa que eu presenciasse. Naquele dia eu queria ser verossímel, o mais possível. Mas, como sempre ocorre, a lei de Murphy estava do meu lado!
Sai de casa certa de que haveria algo de interessante naquela segunda! Tinha certeza de que no caminho pro trabalho poderia ter um acidente de moto, ou de caminhão. Ou que na porta do serviço houvesse uma greve em prol do aumento salarial. Poderia ser até que um gatinho tivesse sido atropelado na avenida e o trânsito estivesse parado só para socorrê-lo. Seria uma história nobre, então. Enfim, eu aceitava qualquer coisa, qualquer desastre grande ou pequeno, tudo em prol de uma história verdadeira. Mas tinha Murphy, com suas leis...
Sai tão empolgada! E fui me decepcionando aos poucos. No caminho do ônibus, buscava atenta os fatos. Mas eles pareciam fugir de mim. O Seu Joaquim, na primeira parada, vi abrindo a padaria. No ponto seguinte, estava a moça dos olhos grandes sentada na porta da lojinha de bijouterias, como todos os dias! E no ponto seguinte, o peixeiro montando a barraca, no outro, ninguém e no outro e no seguinte e até o fim do percurso, nada! Nem mesmo uma pessoa diferente. Tudo igual, igual! Um tédio. Justo quando eu tanto queria.
Cheguei no serviço ainda com uma pequena esperança. Quem sabe a impressora não quebraria bem no meio de uma reunião importante da qual muitos papéis deveriam ser distribuídos à todos? Poderia ser que aquela puxa-saco da minha colega de trabalho derrubasse café na sua camisa favorita! Seria o máximo! E se meu chefe estivesse de bom humor e resolvesse dar aumento para todo mundo? Gostei muito dessa idéia, mas embora eu me esforçasse em manter um pensamento positivo em relação a isso, ele nem de bom humor estava. O que também não era novidade. Mas já que ele estava mal humorado, me ocorreu que, de repente, ele pudesse ter um acesso de raiva e jogar o telefone longe, ou esmurrar o pc... talvez mandasse alguém embora, talvez eu. Não gostei dessa parte. O melhor era mesmo que o serviço continuasse normalmente. E assim correu o dia.
Já em casa, a noite, entendiada e frustada, me peguei assistindo Jornal Nacional. Mais um tédio para o meu dia. Nada tinha acontecido, justo quando eu tanto quis! Egoísmo de minha parte? Talvez... mas, poxa, era por uma boa ação. Uma história, uma crônica, a mais verossímel possível. Mas como Murphy é um desagrádavel, nada de nadica acontecera de diferente. Pelo menos não até aquele momento crucial em que, concluído este pensamento, me dei ao desfrute de deitar no sofá e encarar a parede à minha frente. Então tudo aconteceu.
Eu a vi. Toda esticada, como se tomasse sol. As antenas se mexendo devagar. As asas marrom ameaçando vôo e de repente, ecoando pela casa, meu grito de horror! " Uma baraaaaaata!!!!". Não sei se ela me ouviu, mas parecia que tinha gostado. Saiu voando sem medo, nem dó. Corri atônita, sem chinelo, pela sala. A danada parecia rir da minha cara. Parou no braço do sofá e com a maior cara de pau, lançou-se, como míssel, em direção à minha testa.
Dei um pulo mortal pro sofá! Enrosquei o pé na mesa de centro da sala e caí de cara no chão! Olhei pra trás, lá vinha ela! Levantei rapidamente, mas não sem antes lançar mão da minha Havaiana! Ela deu uma parada na mesa de centro. Resolvi atacar! Foi uma guerra árdua!
Lá por volta da meia noite me dei por vencedora. A barata estava agora toda estilhaçada bem debaixo da vassoura. O chinelo? Bom... voou pela janela numa das tentivas de acertá-la! Tive algumas perdas: o vaso da mesa de centro, um corte na boca, devido ao tombo, um arranhão na perna e uma pequena estátua de vidro quebrada (quando o chinelo voou, adivinha no que acertei...), mas tinha finalmente vencido. A barata? O tédio.
Finalmente venci as leis de Murphy. Minha segunda-feira tinha acontecido. Não bem como eu planejara, mas pelo menos eu tinha minha crônica. Tinha? Seja como for, depois deste dia, nunca mais acordei com vontade de escrever às segundas-feiras. História nenhuma, ainda mais se for para ser dessas muito reais. Prefiro ir dormindo no ônibus!